51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

REINTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA DA TRAVESSIA PETRÓPOLIS-TERESÓPOLIS (PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS, RJ)

Texto do resumo

A Travessia Petrópolis-Teresópolis é um dos clássicos do montanhismo nacional, com registros de visitação desde os anos 1920, antes mesmo da criação do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. O percurso praticamente inaugurou no Brasil o modelo de caminhada em trilhas com mais de um dia de duração. A travessia apresenta uma diversidade de rochas e feições geomorfológicas em afloramentos rochosos e lances que a tornam de grande beleza cênica. Estudos geológicos na região são desenvolvidos há décadas, a exemplo das contribuições de G.F. Rosier (anos 1950) e dos importantes apontamentos de naturalistas como George Gardner em meados do século XIX. Nos últimos anos, os aspectos geológicos e geomorfológicos têm sido desenvolvidos com foco na interpretação ambiental em trilhas, proporcionando uma abordagem holística e em diálogo com as pessoas que frequentam as montanhas. O percurso da Travessia possui cerca de 30 km de extensão, com significativa variação de altitude (900 a 2.255m). O substrato geológico é constituído por rochas associadas à raiz de uma cadeia de montanhas gerada durante colisões entre placas durante a Orogênese Brasiliana e a formação do supercontinente Gondwana. Na Travessia afloram rochas gnáissicas geradas nas fases pré (Complexo Rio Negro, 630-600Ma) e sin -colisional ( Suíte Serra dos Órgãos, 570-560Ma) e granitos da fase pós-colisional (Suíte Nova Friburgo, 480-500 Ma). A paisagem revela uma combinação de intemperismo diferencial controlada pela litologia e forte incisão nos vales ao longo de falhas e fraturas sub-verticais. Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo realizar a interpretação geológica da Travessia a partir de uma descrição e mapeamento da litologia aflorante em escala adequada ao percurso da trilha, com avanços no entendimento de sua complexidade e, mais ainda, nas especificidades existentes na distribuição espacial dos granitos e seu contato com os gnaisses. A metodologia envolveu levantamento bibliográfico e cartográfico, com destaque para o Mapa Geológico e de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro; trabalhos de campo para registros fotográficos e medições de geologia estrutural; fotointerpretação de imagens de alta resolução com a utilização do Google Earth e ArcGis. Os resultados indicam a presença de granitos no início da Travessia, a partir da Pedra do Queijo, passando a predominar nos Planaltos do Açu e do Sino. Nos trabalhos de campo e na fotointerpretação, a concentração de matacões, associados a encostas convexas de textura mais lisa, foram fundamentais na identificação dos corpos graníticos. Esta caracterização demonstrou a singularidade do conjunto montanhoso Sino-Garrafão, com corpos graníticos expostos que podem superar 1000 metros de espessura, indicando a possibilidade de novas interpretações geológicas e sua relevância como patrimônio geológico internacional. A abordagem realizada dialoga com iniciativas no âmbito das paisagens graníticas da Região Serrana do Rio de Janeiro, a exemplo da Proposta Geoparque Montanhas e do Mosaico de Áreas Protegidas da Mata Atlântica Central Fluminense.

Palavras Chave

Geodiversidade; Montanhismo; Patrimônio Geológico; Parnaso; Trilhas.

Área

TEMA 04 - Geodiversidade, Geoturismo e Geoconservação

Autores/Proponentes

Fernando Amaro Pessoa, Miguel Tupinambá