51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

EXCEPCIONAIS ARENITOS COM CRUSTÁCEOS E MESOSSAUROS ACIMA DOS ÚLTIMOS FOLHELHOS BETUMINOSOS DA FORMAÇÃO IRATI (BACIA DO PARANÁ, PERMIANO) NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Texto do resumo

Apesar de inúmeros estudos, a história ambiental e deposicional da Formação Irati e das unidades sobrejacentes do Grupo Passa Dois (Permiano, Bacia do Paraná) continua obscura, sob diversos aspectos. Em particular, a passagem da Formação Irati para a Formação Serra Alta (ou parte inferior da Formação Corumbataí) ainda carece de estudos detalhados que permitam elucidar as mudanças ambientais ocorridas neste intervalo. O contato é indicado em subsuperfície (estados de São Paulo e Paraná) pela presença de bone bed milimétrico, rico em restos fragmentados de peixes, interpretado como lag transgressivo da unidade sobreposta. Em afloramentos no Estado de São Paulo, o contato tem sido posicionado no topo do último folhelho betuminoso ou do último dolomito, ambos com abundantes nódulos de sílex, normalmente coincidindo com o desaparecimento de fósseis mesossauros. Na região de Rio Claro-Ipeúna-Limeira (Estado de São Paulo), tal superfície é excepcionalmente sobreposta por arenito muito fino com abundantes restos de crustáceos e raras costelas inteiras e vértebras parcialmente articuladas de mesossauros. Apesar de pouco explorados em termos bioestratinômicos, outros autores sugeriram que este arenito também poderia ser interpretado como lag transgressivo da unidade subsequente. A fim de explorar seu significado ambiental, deposicional, bioestratigráfico e paleogeográfico, o presente estudo, investiga em detalhe este intervalo fossilífero, utilizando-se de abordagens estratigráfica, sedimentológica e tafonômica. Em afloramentos de Ipeúna, Limeira e Rio Claro, a camada de arenito fino com crustáceos possui cerca de 37 cm de espessura, estratificação plano-paralela, e localmente estratificação cruzada por ondas. Os restos de crustáceos ocorrem como pavimentos em diversos planos da estratificação. Incluem peças parcialmente articuladas e carapaças quase completas, as quais sugerem afinidade com Pygocephalomorpha. O arenito é sobreposto por siltito maciço com escamas de peixes paleonisciformes, típico da Formação Serra Alta. Em exposições na região de Saltinho, assim como em poços nas regiões de Anhembi e Bofete, as camadas com crustáceos não ocorrem. Nestes locais depósitos da Formação Irati são sobrepostos diretamente por arenitos finos e siltitos da Formação Serra Alta. Portanto, reforça-se a restrição geográfica dos depósitos fossilíferos aqui estudados. Em termos tafonômicos, a preservação de peças frágeis de crustáceos, por vezes ainda articulados atesta o baixo grau de mistura temporal aos quais estes restos foram expostos antes de seu soterramento final. O mesmo pode ser inferido para os ossos de mesossauros, cuja articulação parcial pressupõe a presença de tecidos moles durante o tempo do soterramento. Com base nestes aspectos e na provável afinidade dos crustáceos àqueles da Formação Irati, sugere-se que esta camada represente um aporte de terrígenos em condições de alta energia, possivelmente encerrando a fase regressiva desta unidade. Sua restrição geográfica por sua vez pode indicar relativa proximidade da região de Ipeúna-Rio Claro-Limeira à paleomargem original da bacia. Por fim, ressalta-se que se considera válido posicionar o contato litoestratigráfico onde desaparecem os calcários e folhelhos da Formação Irati, mas este nível não necessariamente coincide com o nível de desaparecimento da fauna, nem com o limite de sequência.

Palavras Chave

Estratigrafia; Limite de sequência; Tafonomia; Lag transgressivo; Cisuraliano

Área

TEMA 21 - Estratigrafia, Sedimentologia e Paleontologia

Autores/Proponentes

Giúlia Raphaela Morais, Rosemarie Rohn, Lucas Inglez, Eduardo Guilherme Piazentim