51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

Rompimento de barragem de mineração de ferro em Brumadinho (MG): efeitos tóxicos em minhocas

Texto do resumo

Em Janeiro de 2019, a barragem da mina Córrego do Feijão “Barragem I”, em Brumadinho (MG) rompeu e liberou cerca de 12 milhões de m3 de rejeitos de minério de ferro para o meio ambiente. Os rejeitos mobilizaram muitos outros materiais no caminho (solos, sedimentos, concreto, entre outros) e impactaram severamente sistemas terrestres e aquáticos. Este estudo consiste na avaliação da poluição por metais e da toxicidade associada à corrida da lama gerada a partir do rompimento da barragem de mineração em Brumadinho (MG). Dez dias após o desastre, amostras de rejeitos foram coletadas em três áreas: (i) Zona Quente (ZQ; n = 9) – próximo ao rompimento da barragem; (ii) Parque das Cachoeiras (PC; n = 3) – a jusante da Zona Quente; e (iii) Alberto Flores (AF; n = 3), mais próximo do rio Paraopeba (importante afluente de uma das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras). As amostras coletadas nas diferentes áreas impactadas foram misturadas visando obter uma amostra composta espacialmente representativa de cada grande área. Uma amostra de solo foi coletada em um fragmento florestal não impactado pelos rejeitos, para servir como referência (background pedogeoquímico). As amostras compostas foram caracterizadas quanto à granulometria, densidade de partículas, capacidade de retenção de água (CRA) e pH. A avaliação da toxicidade foi baseada em testes sub-agudos (2 dias) de fuga e de toxicidade crônica com minhocas (Eisenia andrei – 56 dias), executados conforme protocolo padrão da ISO. Ao final dos experimentos, foram avaliados o comportamento de fuga após 2 dias exposição; mortalidade e biomassa de organismos adulto após os primeiros 28 dias de exposição em teste crônico; e a reprodução após 56 dias. A determinação de metais nas amostras ainda se encontra em andamento. A análise granulométrica que a amostra ZQ é textura predominantemente lamosa, e exibe alta densidade de partículas (4,0g/cm3). As demais amostras são textura mais arenosa, mas também exibiram altos valores de densidade de partículas (em torno de 3,4 g/cm3). A elevada densidade está ligada ao fator de que os rejeitos são ricos em ferro (hematita). Além disso, os rejeitos são de textura fina, em consonância com um valor mais alto de densidade encontrado na ZQ (amostra mais lamosa). Os valores de pH variaram foram levemente ácidos (entre 4,4 e 5,4) – típicos de materiais e/ou solos que sofreram intenso intemperismo. Esta faixa de pH tende mobilizar/lixiviar mais facilmente metais pesados no meio ambiente, tornando-os mais potencialmente biodisponíveis. Os testes de toxicidade indicam fuga e ausência de mortalidade de organismos, porém as minhocas perderam significativamente biomassa. Este emagrecimento é reflexo do enriquecimento anômalo de Fe nas amostras que, por sua vez, tende a reduzir dramaticamente a disponibilidade de alimento (matéria orgânica) e de água para as minhocas. De fato, o enriquecimento por Fe induziu a redução da CRA dos materiais, cujos valores são quase duas vezes menores do que o encontrado na amostra-referência. A reprodução de minhocas foi quase nula em todos as amostras (abaixo de 10% em relação à amostra-referência), indicando extrema toxicidade crônica e comprometimento da perpetuação da espécie. Em função do enriquecimento por Fe, o solo exibe forte compactação (principalmente na ZQ, cuja textura é fina), o que também induz perturbações à eclosão dos casulos das minhocas.

Palavras Chave

MINHOCAS; Barragem; BIOENSAIOS; contaminação

Área

TEMA 03 - Risco Geológico, Geologia de Engenharia e Barragens

Autores/Proponentes

LARA FILGUEIRA, Ricardo CÉSAR, Pedro ZANETTI, Yuri SENA, Livia BARREIROS, ZULEICA CARMEM CASTILHOS