51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

PROCESSOS SUPERGÊNICOS GERADORES DE MATÉRIAS-PRIMAS LÍTICAS UTILIZADAS EM SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO VALE DO PERUAÇU-MG

Texto do resumo

Estudos de sítios arqueológicos pré-históricos com artefatos líticos conectam-se às geociências pelo interesse dos pesquisadores na paisagem desses locais à época das ocupações humanas e pela caracterização das litologias utilizadas na elaboração dos artefatos. No Brasil, sílex (silexito para alguns arqueólogos), arenito silicificado e quartzo, e suas variações químicas e granulométricas, constituem a maior parte dos artefatos lascados, tendo seu uso sido norteado pela disponibilidade geológica e por escolhas técnicas ou estéticas dos seus autores. O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, situado à esquerda do rio São Francisco, norte de Minas Gerais, apresenta relevo cárstico desenvolvido sobre carbonatos e pelitos ediacariano-cambrianos do Grupo Bambuí e arenitos cretáceos do Grupo Urucuia. De 1979 aos dias atuais foram identificados mais de 100 sítios arqueológicos, cujas ocupações humanas remontam a 12.000 A.P. Embora tais populações tenham buscado sílex e arenito de várias fontes (leito do rio Peruaçu e fora do parque), o sítio a céu aberto do Judas foi uma área de obtenção de matéria-prima-MP onde esta era descorticada (remoção da porção externa oxidada ou friável). Em sítios de ocupação mais intensa, como a Lapa do Boquete e o Abrigo do Malhador, era realizado o lascamento para obter instrumentos, e estes podiam também ser utilizados. A pesquisa em curso estuda a proveniência das MPs citadas nos artefatos líticos da porção a céu aberto da Lapa do Boquete. O método de trabalho consiste na identificação litológica macroscópica, mensuração, pesagem e categorização básica (em brutos de debitagem, núcleos, lascas, cassons, percutores, quebra-cocos, instrumentos retocados ou não) de mais de 3.300 peças líticas da porção a céu aberto do Boquete, e o registro de suas posições de coleta em mapas de grande escala. O sílex de melhor qualidade para o lascamento no Peruaçu é o das concreções lenticulares pretas com 1-5 cm de espessura X 10-90 cm de comprimento, contudo sua extração teria sido dificultada por ocorrerem firmemente inseridas nos calcários, além de elas constituírem volumes muito reduzidos. Isso é confirmado pelo fato os sílex em artefatos serem em sua maioria cinzas, beges e brancos, em boa parte provenientes do Judas e de cascalhos e paleocascalhos do rio Peruaçu. No sítio do Judas, os arenitos de granulometria fina-média (utilizados no passado como percutores) Urucuia recobrem discordantemente os pelitos Bambuí, e no contato com os pelitos ocorrem como matacões coluvionares de arenitos silicificados associados a sílex (ambos usados para lascamento). Não há na região registros de vulcanismo gerador de silicificação em arenitos, como na Bacia do Paraná, ou de sílex associado a dissolução e precipitação de sílica em falhas, como na bacia potiguar do Piranhas-Açu, que justifiquem, respectivamente, a presença dessas duas litologias no Judas e no sítio arqueológico próximo, denominado Guarapari. Os estudos indicam que os bolsões de sílex e arenito silicificado foram gerados por processos supergênicos de dissolução e redeposição de sílica na zona de contato supracitada, uma barreira de permo-porosidade, bem como as pequenas drusas de quartzo e calcedônia, por vezes associadas a pirolusita, criptomelana e romanechita botrioidais. Outros produtos supergênicos são as crostas lateritas e pisólitos ferruginosos e manganesíferos (usadas como pigmentos nas pinturas rupestres sob abrigos), presentes nas encostas do local.

Palavras Chave

Parque Peruaçu; arqueologia; supergênese; arenito silicificado; sílex

Área

TEMA 04 - Geodiversidade, Geoturismo e Geoconservação

Autores/Proponentes

Ulisses Cyrino Penha, André Prous, Fabrício de Andrade Caxito