51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

GERAISITOS: A PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE TECTITOS NO BRASIL

Texto do resumo

Tectitos são vidros naturais raros formados durante impactos de meteoritos na Terra e encontrados em campos de dispersão a centenas de quilômetros de distância da cratera de origem. Embora visualmente muito semelhantes ao vidro vulcânico (obsidiana), ou mesmo a alguns vidros industriais, os tectitos têm características únicas, sendo a principal delas seu conteúdo extremamente baixo (<0.03 wt.%) em água. Existem apenas seis campos de dispersão de tectitos conhecidos na Terra, sendo quatro deles históricos, Australásia, Europa Central, Costa do Marfim, e Norte-Americano, bem como dois campos descobertos mais recentemente, em Belize e no Uruguai. Recentemente, chegou ao conhecimento dos autores o achado de alguns espécimes de vidro incomuns na região nordeste do Brasil. Moradores de duas localidades do norte de Minas Gerais enviaram, de forma independente, alguns desses espécimes para análise. Investigações preliminares permitiram excluir uma origem vulcânica ou industrial. Uma expedição à região foi então conduzida pelos três primeiros autores em novembro de 2023, durante a qual 10 espécimes foram encontrados no campo (com 87 km de distância entre os mais distantes) e alguns outros espécimes foram obtidos de moradores locais. Posteriormente, vários espécimes adicionais foram encontrados por moradores e enviados aos autores. Os espécimes, com massas variando de cerca de<1 g até 85 g, exibem várias formas (esférica, elipsoidal, lágrima e halteres). Todos têm cor preta (exceto um espécime verde-oliva), mostram superfícies esburacadas características e exibem cores verde-oliva a marrom em luz transmitida (quando a espessura é inferior a alguns milímetros). Investigações de seis espécimes por microssonda eletrônica mostram que eles são muito homogêneos em composição, com raras inclusões de lechatelierita (variedade de vidro de quartzo de altíssima temperatura. comumente encontrado em tectitos). Resultados da análise por microssonda situam esses tectitos nos campos de dacito e riólito do diagrama álcali total versus sílica, com similar conteúdo em SiO2 entre 70.3 and 73.7 wt.% e de Na2O+K2O entre 5.86 e 8.01 wt.%, este último ligeiramente superior quando comparado com outros tectitos conhecidos. Os dados de ICP-MS para quatro espécimes mostram algumas variações nos elementos traço de amostra para amostra, como o Cr (10-48 ppm) e Ni (9-63 ppm). Os teores de água obtidos para três espécimes (usando espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier) são extremamente baixos, variando entre 70 e 110 ppm, bastante compatíveis com tectitos de outros campos de dispersão (o intervalo típico para tectitos é entre 20 e 300 ppm, enquanto as obsidianas têm teores de água muito mais altos, de 700 a 2000 ppm). Datação geocronológica 40Ar-39Ar encontra-se em andamento. A atual área de ocorrência de tectitos define uma elipse de cerca de 87 km de extensão no norte do estado de Minas Gerais. No entanto, a extensão do campo de dispersão ainda não está bem definida e é provável que se estenda por uma área maior. Nenhuma cratera de impacto possivelmente relacionada a esta nova ocorrência de tectitos é ainda conhecida no Brasil, ou em países vizinhos. Em conclusão, nosso trabalho levou à descoberta e confirmação de um novo campo de dispersão de tectitos, o 7º conhecido no mundo, aqui denominado "geraisitos" (em homenagem ao estado brasileiro de Minas Gerais).

Palavras Chave

tectito; vidro de impacto; campo de dispersão; lechatelierita

Área

TEMA 20 - Mineralogia e Petrologia Metamórfica

Autores/Proponentes

Alvaro Penteado Crósta, Gabriel Gonçalves Silva, Ludovic Ferrière, Jean-Alix Barrat, Eugene Libowitzky