51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

Praia do Viral: quando o limite geográfico de uma capital é apagado pelo mar

Texto do resumo

A Praia do Viral é a última praia no sentido sul do município de Aracaju (SE), historicamente considerada como o limite da capital. De difícil acesso, a praia se tornou um ponto de lazer para as classes média e alta, além de turistas, acessível apenas por veículo 4x4 ou embarcação. Localizada na região estuarina do Rio Vaza-Barris, que nasce em Canudos, Bahia, e atravessa um território semiárido, a praia sofre com a diminuição da vazão do rio, que atualmente registra apenas 1m³/s na região da desembocadura, devido ao desmatamento da Caatinga. A ocupação irregular e descriteriosa da linha de costa, como a construção da Rodovia José Sarney nos anos 1980 e do Loteamento Caueira nos anos 2000, comprometeu o equilíbrio geodinâmico do estuário, resultando em um avanço do mar. Entre 2006 e 2009, o mar destruiu a porção final da Rodovia José Sarney, resultando na perda de cerca de 30km² de terras emersas de Aracaju. A área sofreu uma recomposição parcial e natural, mas a foz do Vaza-Barris passou por grandes transformações, incluindo o surgimento da Ilha dos Namorados em 2012, provavelmente formada pelos sedimentos deslocados. A partir de 2020, uma nova grande mudança ocorreu com forte erosão entre a Praia da Caueira e a Praia do Coqueirinho, em Itaporanga D'Ajuda. Em julho de 2023, a Praia do Viral sofreu um evento de ruptura com as águas do manguezal adjacente, formando um canal profundo que tornou parte da praia inacessível para carros e pedestres. Para compreender o contexto, foram utilizadas imagens de satélite através do C.A.S.S.I.E. (Coastal Analysis System via Satellite Imagery Engine), desenvolvido pelo Laboratório de Oceanografia Costeira da UFSC. O C.A.S.S.I.E identificou taxas de erosão de até 12m/ano nas praias de Itaporanga D'Ajuda, enquanto as praias ao norte do Viral, em Aracaju, mostraram estabilidade. Isso indica que a destruição da Praia do Viral está associada a uma compensação de sedimentos no sentido norte-sul, alinhada com a deriva litorânea predominante no litoral sergipano. O caso da Praia do Viral exemplifica os riscos de intervenções litorâneas em regiões estuarinas, que são geologicamente ativas. Durante o episódio erosivo de 2006-2009, havia planos de construir um resort da CVC na região, mas foram cancelados devido ao cenário de degradação litorânea. Atualmente, há novamente a intenção de construir um "bairro modelo" próximo ao Viral, com impactos potenciais ainda maiores. Espera-se que o bom senso prevaleça e a ideia seja abandonada antes que um cenário mais desolador se instale.

Palavras Chave

EROSÃO COSTEIRA; GESTÃO DE TERRITÓRIO; PLANEJAMENTO COSTEIRO; PROCESSAMENTO DIGITAL DE IMAGENS;

Área

TEMA 02 - Recursos Hídricos e Geociências Ambientais

Autores/Proponentes

Julio Cesar Vieira Soares , Luísa Rocha Begalli, Nicole Lima Possi , Antônio Jorge Vasconcellos Garcia