51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

Saberes geológicos e educação não formal dos garimpeiros do Vale do Jequitinhonha

Texto do resumo

Este artigo analisa a condição e conhecimentos em geologia dos garimpeiros do Vale do Jequitinhonha em sua prática cotidiana. Temos como objetivo analisar os saberes e educação não formal sobre geologia dos trabalhadores do garimpo em sua prática que reverbera como pertencimento ao território e nos riscos ao interferir nestes locais. A metodologia foi desenvolvida principalmente a partir de entrevistas com trabalhadores do garimpo, geólogos e profissionais das geociências que atuam ou atuaram na região norte setentrional do espinhaço e médio Jequitinhonha, além do uso de dados secundários em órgãos oficiais. Os dados presentes em tabelas foram obtidos em levantamentos no sítio do IBGE e em dados fornecidos pela Agência Nacional de Mineração, no período do primeiro semestre de 2024. O artigo tem como referência espaço-tempo e recorte analítico os municípios de Salinas, Coronel Murta, Rubelita, Itinga, Araçuaí, Diamantina e Pedra Azul. Todos esses situam-se no Vale do Jequitinhonha, entretanto, apresentam peculiaridades interessantes. Em sua maioria, os garimpeiros da região atuam em pegmatitos na extração de gemas como esmeralda, água marinha, rubelita e turmalinas. Todavia, existem outras atividades garimpeiras na região como garimpos auríferos e diamantíferos. Em nossos estudos observamos também a territorialidade e pertencimento ao território em conjunto aos ofícios do trabalho. Salienta-se que dados estatísticos sobre o garimpo na região são escassos ou inexistentes devido à informalidade, falta de regularização e até ilegalidade da atividade. Na escrita deste artigo foi notado um grande entendimento desses trabalhadores a respeito de geologia, petrografia ígnea e geomorfologia, os termos referidos por eles como “caldeirões” “massinhas” e no relato de suas técnicas de prospecção revelam o entendimento destes com a dinâmica das rochas e da crosta terrestre. Em nossa análise optamos majoritariamente por trabalhadores que atuam em pegmatitos, trazendo peculiaridades na extração, a diversidade gemologica, alta dureza, dificuldade de escavação além de possíveis instabilidades da rocha são características marcantes. No Vale do Jequitinhonha, a mineração é historicamente um dos principais fatores da ocupação do território. Nota-se ao analisarmos o nome de muitos municípios da região: Turmalina, Diamantina, Salinas, Rubelita, Pedra Azul, Malacacheta, entre outros. A extração da halita (Sal gema) levou à ocupação da cidade de Salinas durante o século 17 com o fito de servir para suprimento ao gado, em Diamantina a ocupação se deu devido a extração de gemas e diamantes encontrados próximo aos rios. Em um recorte de tempo mais recente vemos observado um avanço do capital nas atividades minerárias na região principalmente na extração do espodumênio e minerais de transição energética. Analisamos como a financeirização da mineração na região altera a atuação dos garimpeiros. Após a realização dos nossos estudos concluímos tratar de uma classe de trabalhadores marginalizados com um perfil, saberes e vivências únicos. Embora seja um estudo pioneiro na área, é notável a necessidade de estudos com esse contingente populacional que nos ajuda a entender não só o cenário mineral, como nos permite indagar mais sobre a relação da geologia na construção da sociedade hodierna

Palavras Chave

Garimpo; educação não formal; Geologia; Jequitinhonha; saberes  

Área

TEMA 05 - História e difusão das geociências

Autores/Proponentes

joão vitor Mendes Araújo