Dados da Submissão

Título

EVOLUÇÃO DE PAISAGEM TRANSIENTE NA PORÇÃO ORIENTAL DO CRÁTON AMAZONAS CONSISTENTE COM CONTROLE LITOLÓGICO DO NÍVEL DE BASE

Texto do resumo

Embora mudanças climáticas e movimentos intraplacas sejam frequentemente considerados os principais responsáveis pela evolução da paisagem amazônica, gerando feições geomórficas, como capturas de drenagem, migração de divisores, knickpoints e windgaps, a influência do tipo de rocha como gatilho de processos transientes ainda permanece negligenciada. No Escudo das Guianas, porção oriental do Cráton Amazonas, os rios do escudo fluem sobre as rochas sedimentares da Bacia Amazônica, cruzando uma transição litológica acentuada antes de se juntarem ao Rio Amazonas. Essa transição é marcada por uma Escarpa Principal (EP) formada sobre arenitos resistentes das unidades basais da Bacia Sedimentar do Amazonas.

O objetivo principal do presente trabalho é entender quais mecanismos podem gerar feições transientes da paisagem, e capturas de drenagem alinhadas com o contato litológico e com a expansão da área das bacias na direção do escudo das Guianas. Uma vez perturbada a paisagem, qual a velocidade de resposta do sistema fluvial amazônico?

Utilizando análise geomorfológica quantitativa da topografia e estudo de proveniência sedimentar, investigamos a influência da transição litológica na contribuição dos padrões observados no rearranjo de drenagem.

Os resultados revelaram que bacias com maiores áreas de drenagem, fluindo por distâncias mais curtas sobre as rochas resistentes da EP, capturam sistematicamente bacias vizinhas. Nossa argumentação baseia-se no fato de que, à medida que os tributários que drenam o escudo respondem à queda de nível de base do Rio Amazonas, a velocidade desse processo varia de acordo com o tipo de rocha presente no leito do rio. Rochas mais resistentes à erosão desaceleram o processo de incisão e a propagação dos knickpoints, enquanto rochas menos resistentes são erodidas mais rapidamente. Isso gera uma série de feições transientes, como capturas de drenagem e migração de divisores amplamente disseminadas e sistemáticas na área de estudo, sugerindo que esse mecanismo pode ser um controle autogênico importante do rearranjo da rede de drenagem na região amazônica e em outras paisagens pós-orogênicas.

Estudos com dados de distribuição de idades U-Pb em zircões detríticos coletados em sedimentos de rios, depósitos sedimentares e afloramentos na região do escudo e na EP corroboram com as interpretações sobre a paleodrenagem do escudo. A orientação e elevação dos windgaps na EP indicam que os rios do escudo fluíam de norte a sul, enquanto as idades dos zircões sugerem uma mesma fonte proterozóica comum para os sedimentos coletados nos rios principais das bacias estudadas. Isso reforça a ideia de que a EP não constituía um divisor de drenagem entre os rios do escudo e da bacia amazônica, já que ambos fluíam na mesma direção que os rios atuais.

Em conclusão, este estudo evidenciou que a transição litológica acentuada no Escudo das Guianas resulta na geração de feições transientes, além de padrões sistemáticos de rearranjo de drenagem. Este mecanismo de resposta a eventos de queda de nível de base, associado à exumação prolongada de rochas resistentes em crátons e regiões intraplaca, pode manter as paisagens em constante desequilíbrio, dependendo da complexidade litológica. Este estudo não apenas destaca a influência litológica na evolução da paisagem, mas também oferece um laboratório natural excepcional para estudar a dinâmica da paisagem associada ao tipo de rocha e à evolução geodinâmica do Escudo das Guianas.

Palavras Chave

windgaps; knickpoints; Escudo das Guianas; evolução de paisagem; rochas resistentes