Dados da Submissão

Título

PRIMEIRA LITOTECA INTERCULTURAL DO BRASIL, RIO DE CONTAS, CHAPADA DIAMANTINA, BA: CAMINHO PARA FORMAÇÃO CIDADÃ E GEOÉTICA

Texto do resumo

Com atenção às Diretrizes Curriculares Nacionais, referentes à Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e dos povos Indígenas (ERER) e às normativas para curricularização da Extensão nas IFES, surge o projeto Litoteca Intercultural idealizado por docentes e estudantes das instituições envolvidas, sob a orientação de representantes da comunidade indígena e quilombolas. O objetivo geral do projeto é colaborar com a organização da primeira litoteca intercultural do Brasil, localizada no Colégio Estadual Carlos Souto, Rio de Contas, BA. Para tanto, métodos e técnicas incluíram: 1) rodas de conversa com temas referentes à geologia da região, com nomes e usos das rocha e minerais sendo designados, primeiramente, por lideranças do povo Kariri da Panelada e das comunidades remanescentes quilombolas; 2) dinâmica de perguntas e respostas, com alternância horizontal de interlocutoras (es) ora da comunidade acadêmica da UFBA, ora das comunidades tradicionais envolvidas; 3) atividade de campo na trilha para o poço Azul, sendo conduzida e interpretada à luz da sabedoria indígena, com intervenções pontuais das docentes associando rochas aos seus respectivos nomes científicos e mencionando informações sobre a formação e idades atribuídas às rochas da região, além de auxílio para coleta de amostras representativas de cada unidade; 4) oficina para classificação científica das amostras e associação às informações trazidas pelas comunidades tradicionais; 5) diagnóstico para avaliar a atividade de campo e para verificar aspectos relacionados à memorização e satisfação de discentes a partir de respostas do formulário on-line, preenchido por 35 estudantes da 2ª Série do Ensino Médio Integral, com idades entre 15 e 18 anos. Como resultado, após a atividade de campo, foram selecionadas, catalogadas e documentadas 12 amostras de rochas e minerais, que ficaram expostas no colégio. Sempre que possível, a amostra foi descrita com nome usual nas comunidades e, lateralmente, com o nome científico. Na construção colaborativa houve a descoberta que a “pedra de fogo”, utilizada nas arcadas de forno pelos povos tradicionais, é uma rocha metavulcânica associada a processos explosivos ocorridos há, pelo menos, 1,75 bilhão de anos atrás. Houve também o encantamento em reconhecer que a lama, material muito fino que ocorre nas margens de riachos do bairro Olaria, serve para fazer o “adobinho”, comum nas casas do município, mas também como cura, associada à medicina ancestral indígena. Os dados do diagnóstico revelaram que 57% dos (as) estudantes presentes na trilha sentiram-se aptos (as) para relacionar as rochas de forma intercultural e 97% indicaram a “pedra do fogo/metavulcânica” como uma das rochas identificadas na trilha. Ao serem questionadas sobre os ambientes geológicos verificados na trilha, 97% das pessoas acertaram, indicando desértico – devido às paleodunas identificadas na trilha – e vulcânico, associando à “pedra do fogo”, além dos materiais derivados da dinâmica fluvial atual. Conhecer as rochas, solos e águas de uma região amplia, nas pessoas, o sentimento de pertencimento aos seus territórios e possibilita a reflexão sobre os bens físicos para o bem viver, para a cura, para as memórias ancestrais e afetivas. A organização da primeira litoteca intercultural do Brasil possibilitou reflexões e constatações do caminho a seguir para uma formação cidadã, antirracista e geoética.

Palavras Chave

extensão; Kariri da Panelada; Quilombolas; Geologia