51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

EVENTOS DIAGENÉTICOS E HIDROTERMAIS NAS BRECHAS DOLOMÍTICAS DA FORMAÇÃO SERRA DO QUILOMBO, EDIACARANO DA BACIA ARARAS-ALTO PARAGUAI, SUL DO CRÁTON AMAZÔNICO.

Texto do resumo

O período Ediacarano foi caracterizado pelo estabelecimento de extensas plataformas carbonáticas, associado ao final da glaciação Marinoana (~635 Ma). Os depósitos carbonáticos do Grupo Araras registram a precipitação do início do período Ediacarano, na margem do Cráton Amazônico. A Formação Serra do Quilombo, uma unidade intermediária, é caracterizada por dolomitos fortemente fraturados e falhados, além da presença de brechas cimentadas por dolomita (BC) sobrepondo pacotes espessos de calcário. A origem desses depósitos é pouco compreendida, pois os estudos se concentraram principalmente em questões paleoambientais. Este estudo visa desvendar a origem das brechas cimentadas e os processos pós-deposicionais na unidade, com foco na dolomitização. Amostras de dolomita foram analisadas usando petrografia, microscopia eletrônica de varredura, microssonda, microscopia Raman, catodoluminescência (CL) e análises isotópicas (δ13C, δ18O, 87Sr/86Sr) para desvendar sua história de soterramento. As BCs ocorrem como corpos subverticais, associados a corpos sub-horizontais de texturas zebras. As brechas cortam o acamamento em alto ângulo, indicando processos de hidrofraturamento relacionados a fluxos verticais de fluidos hidrotermais (brecha hidráulica). Apresentam a textura cockade, típica de brechas em falhas dilatacionais. A assembleia paragenética inclui dolomita, quartzo, calcita, feldspato alcalino, apatita, pirita, argilominerais, betume e óxido/hidróxido de ferro; sendo a dolomitização (RD) e a cimentação dolomítica (DC) os principais alvos de análise. A matriz substitutiva quase micrítica (RD1/RD2) é o principal constituinte da Formação Serra do Quilombo, sua baixa correlação entre os valores de δ13C e δ18O (R²=0,009), a fábrica bem preservada e a similaridade com os valores isotópicos (C e Sr) documentados para os carbonatos ediacaranos sugerem que a dolomitização ocorreu em condições de soterramento raso e com participação da água do mar. A primeira geração de cimento dolomítico (DC1) e a última fase de cimentação (dolomita em sela - DC3) ocorrem preenchendo poros, BCs e fraturas. A textura cockade das brechas evidencia uma baixa taxa de precipitação ou uma pausa entre DC1 e DC3. DC1 tem sinais isotópicos de δ18O = -4.34 ± 1.32‰ (n=18) e 87Sr/86Sr = 0,708831 (n=2), enquanto DC3 (dolomita em sela) apresenta valores de δ18O = -9.57 ± 2.51‰ (n=15) e 87Sr/86Sr = 0,711464 (n=3). A grande diferença isotópica e textural entre as fases mostra uma distinção entre os fluidos dolomitizantes. O aumento do 87Sr no fluido com a temperatura e o enriquecimento em 87Sr podem ser explicados pela interação do fluido com rochas do embasamento cristalino. O principal conduto para a ascensão de fluidos radiogênicos seria a reativação de falhas com raízes profundas. A ocorrência de BC na Formação Serra do Quilombo decorre do contato calcário-dolomito ser interpretado como facilitador para o desenvolvimento de corredores de fraturas, auxiliando na percolação de fluidos hidrotermais. Os condutos com brecha carbonática são posteriores ao evento de silicificação dos evaporitos da Formação Nobres, que funcionaram como rocha selante aos fluídos hidrotermais. A presença de estilólitos tectônicos cortando as brechas cimentadas e as estruturas stratabound, tipo zebra, subverticalizadas indica que as BC já estavam formadas durante a instalação das estruturas transtensionais pós-Ordoviciano, que precedeu a formação das Bacias do Paleozoico na Plataforma Sul-americana.

Palavras Chave

Dolomitização hidrotermal; Brecha cockade; Petrografia; Isótopos estáveis; Grupo Araras.

Área

TEMA 21 - Estratigrafia, Sedimentologia e Paleontologia

Autores/Proponentes

Leandro Freitas Sepeda, Afonso Cesar Nogueira, Renan Fernandes Santos, Juliana Okubo, Juliana Charão Marques, João Neto Milhomem, Pedro Silva