Dados da Submissão

Título

GEOQUÍMICA ORGÂNICA E δ13C DO FOLHELHO LONTRAS: EVIDÊNCIAS DE APORTES DE MATÉRIA ORGÂNICA MARINHA E TERRESTRE DURANTE O CICLO DE DEGLACIAÇÃO NO PALEOZÓICO SUPERIOR DA BACIA DO PARANÁ

Texto do resumo

Os folhelhos orgânicos Lontras (FL; Pensilvaniano-Permiano) estão associados ao pico de aquecimento da Era do Gelo do Paleozoico Superior na Bacia do Paraná. Estes depósitos são classificados como um Lagerstätte, e consistem em uma seção de 1,15 m de espessura de folhelhos fossilíferos que abrigam espécimes diversos com preservação excepcional. O FL aflora no município de Mafra (SC), e é subdividido em quatro níveis estratigráficos principais (1-4). Este trabalho tem como objetivo caracterizar a matéria orgânica e suas fontes, bem como o cenário paleodeposicional do FL. Os dados utilizados incluem os conteúdos de Carbono Total (CT), Carbono Orgânico Total (COT), Nitrogênio Total (NT) e Enxofre Total (ST), medidos em um Analisador Elementar Thermo Scientific FlashSmart CHNS/O e no analisador da Vinci Technologies Rock-Eval 7. A análise isotópica do δ13C foram conduzidas no analisador EA-IRMS Delta V. Os valores do COT compreendem de 4,30 ± 0,04 % a 12,05 ± 0,07 % (r = 0,99) no RockEval 7 e 4,31 ± 0,04 % e 11,69 ± 0,06 % no analisador elementar, enquanto o carbono mineral não excedeu 0,23 %. Os valores de NT variam de 0,18 ± 0,03 % a 0,46 ± 0,01 %. Enquanto os valores de TS variam entre 1,13 ± 0,04 % e 3,08 ± 0,14 %, fornecendo relações ST/COT de 0,15 a 0,41%. Os valores elementares e do COT decrescem em direção ao topo, com as maiores concentrações na porção intermediária do afloramento (nível 3). As amostras representativas dos níveis 1, 2 e 3 apresentam assinatura isotópica semelhante de -26,76 ± 0,14 ‰, enquanto a amostra do nível 4 (topo) apresenta δ13C mais positivo de -24,39 ± 0,13 ‰. Os dados de δ13C refletem que a matéria orgânica foi proveniente de fontes mistas terrestres e marinhas, semelhante à assembleia fóssil do FL. O enriquecimento de +2,40 ‰ na razão δ13C coincide com os valores mais baixos de COT no FL, indicando que a degradação da matéria orgânica modificou localmente os valores isotópicos e, também, que o valor do C inorgânico não influenciou no valor do δ13C. Dados de geoquímica orgânica revelam, predominantemente, querogênio tipo II, indicativo de material planctônico marinho, enquanto o querogênio tipo II/III é restrito ao nível 4, sugerindo contribuição de fontes terrestres, indicando processos de intemperismo e aumento da entrada de fitoclastos no nível 4. Reconstruções paleoambientais do FL propuseram modelos de estuários marinhos profundos a marinhos rasos, semelhantes a fiordes. No entanto, a razão ST/COT abaixo de 0,5 indicam água salobra, não condizente com condições marinhas abertas. A assinatura negativa do δ13C e a predominância do querogênio tipo II estão associadas ao aumento da bioatividade e ao acúmulo de matéria orgânica em ambientes redutores. Condições mais quentes durante o final da Era do Gelo do Paleozoico Superior causaram uma transgressão marinha, afetando a atividade biológica e o transporte de nutrientes entre as águas do mar e as águas do degelo. Os influxos ricos em nutrientes, provavelmente, aumentaram a produtividade, causando proliferação de algas e anoxia em águas profundas. A reconstrução paleoambiental proposta a partir dos dados apresentados neste estudo reforça um cenário marinho restrito costeiro para o FL, com estratificação da água devido ao contraste de salinidades entre a água do mar e a água doce. Futuros levantamentos isotópicos deverão ampliar a cobertura estratigráfica, visando também intervalos não-fossilíferos do Membro Lontras.

Palavras Chave

Folhelho orgânico; δ13C; Bacia do Paraná; Análise elementar; Paleoambiente Deposicional