51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

ROCHAS CARBONÁTICAS INTERCALADAS ENTRE SILICICLÁSTICAS: REFLEXÕES SOBRE SUA CLASSIFICAÇÃO PETROLÓGICA CONFORME EXEMPLOS DA FORMAÇÃO TERESINA (BACIA DO PARANÁ, PERMIANO)

Texto do resumo

Rochas e unidades essencialmente carbonáticas enquadram-se em classificações petrológicas/petrográficas exclusivas e em modelos deposicionais próprios de bacias carbonáticas. Cabe discutir se as classificações e os modelos também são válidos para carbonatos intercalados entre camadas siliciclásticas. Um bom exemplo de sucessão mista é a Formação Teresina (Grupo Passa Dois, Bacia do Paraná, Guadalupiano), na qual predominam folhelhos e arenitos muito finos interlaminados com acamamento lenticular/wavy/flaser e, às vezes, arenitos com estratificações cruzadas por ondas, compondo sucessões cíclicas de “raseamento” (até 6 m de espessura). Gretas de contração aparecem em alguns níveis. As camadas carbonáticas geralmente são submétricas, posicionadas acima das porções siliciclásticas mais arenosas ou se intercalam aleatoriamente, em qualquer nível. O ambiente deposicional era um mar interior muito raso, com assoalho quase horizontal, influenciado por ondas de tempestade, com variações do nível de água e provavelmente do aporte de siliciclastos conforme oscilações do clima. Para a discussão é usado o poço SP-29-PR da CPRM, em Sapopema, PR (50o35’44,1”W, 23o46’56,7”S), onde foram observados 303 m da formação (faltando cerca de 50 m até o contato superior da unidade). O intervalo estudado abrange cerca de 50 intercalações de calcários centi- a decimétricos, examinados em 77 lâminas petrográficas, abrangendo seis oosparitos relativamente uniformes (identificáveis macroscopicamente), dois biomicritos e dois intervalos com microbialitos. Os demais corpos carbonáticos, aqui informalmente designados “complexos”, apresentam grandes variações verticais, até na escala de milímetros, de aloquímicos, matriz e cimento. Para a caracterização de toda a gama de variações, tais carbonatos foram analisados em duas ou mais lâminas. Os elementos aloquímicos aparecem em distintas diversidades e empacotamentos, incluindo ooides, peloides, porções brechoides carbonáticas ou silicificadas, ostracodes, moluscos bivalves, microestromatólitos incrustados em conchas, provável alga Rhodophyta, escamas e outros restos de peixes, coprólitos e micrófilos de licófitas. Portanto, as classificações petrográficas tradicionais são pouco eficazes para os carbonatos “complexos”, mas acabam sendo usadas por falta de alternativas. Ao comparar as colunas de poços próximos da região de Sapopema e Congonhinhas, verifica-se que as camadas carbonáticas mais espessas ou os pacotes com alta proporção de carbonatos aparentemente são correlacionáveis, mas podem variar lateralmente quanto à composição. Por outro lado, corpos mais delgados e verticalmente isolados têm ocorrências, em geral, apenas locais. É provável que as rochas carbonáticas complexas representem uma longa história deposicional, variações de energia, retrabalhamentos, exposições subaéreas e dissoluções parciais, possivelmente em áreas relativamente amplas da bacia conforme os controles das variações do nível de base e da alcalinidade, por sua vez controladas pelo clima. A complexidade pode refletir o pequeno espaço de acomodação dos sedimentos em bacia intracratônica. Desta forma, as camadas complexas, em si, não podem ser interpretadas no âmbito da Estratigrafia de Sequências convencional. Em suma, modelos e nomenclaturas criados para rochas carbonáticas puras geralmente são inadequados para as sucessões de carbonatos e siliciclastos mistas de bacias intracratônicas, demandando engendrar classificações específicas.

Palavras Chave

Calcários; Grupo Passa Dois; sistema carbonático-siliciclástico misto; Guadalupiano; mar interior.

Área

TEMA 21 - Estratigrafia, Sedimentologia e Paleontologia

Autores/Proponentes

Murílo Oliveira Martins, Rosemarie Rohn