51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

Novos materiais fósseis de Mourasuchus amazonensis (Caimaninae, Crocodylia) resultantes do Projeto RadamBrasil

Texto do resumo

Cerca de quarenta anos após a finalização do Projeto RadamBrasil, materiais fósseis relevantes ainda são (re)descobertos e estudados. O referido projeto, dedicado principalmente à exploração geográfica e geológica de diversas regiões do território brasileiro, em especial a Amazônia, foi desenvolvido e supervisionado pelo Ministério de Minas e Energia e vigorou de 1970 a 1985. Uma expressiva quantidade de fósseis foi resgatada pelas expedições do RadamBrasil, sendo estes depositados em instituições competentes para subsequentes estudos. Uma grande quantidade desses materiais encontra-se no acervo do Museu de Ciências da Terra (MCTer/SGB), no Rio de Janeiro. Após uma recente e ampla revisão desses fósseis foram encontrados materiais ainda inéditos para a ciência, dentre os quais se destaca parte da mandíbula do holótipo de Mourasuchus amazonensis (MCT.R.526), além de material mandibular de um indivíduo menor (MCT.LE.6923) da mesma espécie. Os exemplares haviam sido armazenados inadequadamente e se encontravam em um estado inicial de fragmentação e deterioração. Ações de conservação foram efetuadas para reverter esse quadro, incluindo a higienização dos exemplares, estabilização e consolidação das partes fragmentadas e o recondicionamento dos exemplares recuperados, juntamente com seu inventário. Desde sua descoberta e descrição, realizadas pelo notável paleontólogo de vertebrados LLEWELLIN IVOR PRICE, o crânio do bizarro Mourasuchus amazonensis foi descrito e figurado. No entanto, apesar de ter sido mencionado e brevemente descrito, os elementos mandibulares e o espécime associado não foram figurados (o último tampouco mencionado ou descrito), permanecendo armazenados e longe do conhecimento público. Mourasuchus amazonensis foi uma espécie gigante de jacaré, exibindo crânio bastante largo e achatado, com dentes relativamente pequenos e numerosos, o que o fez ser considerado como um morfótipo de crocodiliano que se alimentava através de filtração do lodo de fundo dos mananciais de água doce onde forrageava. Os novos materiais exibem os ramos hemimandibulares bastante alongados e baixos; esplenial laminar e fortemente associado ao dentário; dentes implantados em alvéolos isolados e bem espaçados na região anterior da mandíbula, com gradativa redução de tamanho, e se aproximam uns dos outros para o final da série dentária, com os mais posteriores implantados em calhas alveolares. Os dentes são conidontes, de carenas lisas e suaves sulcos apicobasais nas coroas, principalmente nas faces linguais. Todos os materiais referentes a M. amazonensis no âmbito da expedição de L.I.PRICE foram coletados na localidade 33 (9o 8’ 52.80” S; 72o 40’ 56.80” O, localidade 55 – Igarapé São João do Radam vol 18), Alto Rio Juruá, Acre. Os fósseis ocorrem em siltitos esverdeados a avermelhados correspondentes à Formação Solimões (Mioceno/Plioceno), Bacia do Acre. Os depósitos da Formação Solimões, formados em contexto flúvio-lacustre, são caracterizados por argilitos e siltitos maciços ou com laminação horizontal e camadas lenticulares de arenitos finos a grossos com estratificação cruzada de pequeno a médio porte. O estudo dos vertebrados fósseis da Formação Solimões pode fornecer novas informações sobre sua filogenia e paleobiologia, assim como novos dados estratigráficos e características dos sistemas deposicionais.

Palavras Chave

Mourasuchus; Crocodylia; RadamBrasil; Formação Solimões; Acre

Área

TEMA 21 - Estratigrafia, Sedimentologia e Paleontologia

Autores/Proponentes

André Eduardo Piacentini Pinheiro, Patrícia Ketlin Garcia de Oliveira, João Carlos Alberto Dias, Priscilla de Souza da Silva, Felipe Mesquita de Vasconcellos, Rafael Costa da Silva