Dados da Submissão

Título

CARACTERIZAÇÃO E GÊNESE DE PELLETS GLACIAIS NA FORMAÇÃO CAMPO DO TENENTE (GRUPO ITARARÉ, BACIA DO PARANÁ)

Texto do resumo

O Grupo Itararé, particularmente suas porções inferiores, como a Formação Campo do Tenente, constitui um notável registro da glaciação gondwânica do permocarbonífero na Bacia do Paraná. Essa formação possui evidências da atuação de processos glaciais na forma de detritos transportados por gelo flutuante (Ice Rafted Debris -IRD), predominantemente encontrados na forma de pellets de diamictito (agregados de sedimentos coesos preservados como grãos discretos). Embora os IRD tenham um potencial significativo para caracterizar ambientes deposicionais e agentes de transporte sedimentares, não são encontrados na literatura estudos específicos visando determinar sua gênese em depósitos neopaleozoicos. Tampouco, há investigações acerca desse aspecto no Grupo Itararé. Este trabalho visa preencher essa lacuna caracterizando composição mineralógica, textura e microestruturas observadas em 255 pellets de três fácies distintas da Formação Campo do Tenente, localizada no município homônimo. A análise desses elementos envolveu trabalhos de campo e procedimentos laboratoriais, voltados para descrição e interpretação de tramas e estruturas microscópicas. Este método desempenhou um papel fundamental ao fornecer informações valiosas sobre a resposta dos sedimentos a diferentes regimes e intensidades de deformação em sistemas glaciais. Constatou-se, que a composição mineralógica geral dos pellets é relativamente homogênea, e, consiste predominantemente em quartzo (55-65%), feldspatos (30-35%) e plagioclásios (5%), com indícios de deformações granulares. Entretanto, nota-se que nas fácies média e superior, compostas por diamictitos e ritmitos, respectivamente, porcentagens significativas de carbonatos (5%) e granitos (5%) são evidentes, indicando potenciais diferenças nas fontes dos sedimentos que compõem esses pellets. Outro aspecto importante analisado foi a presença de arranjos circulares de grãos (turbados), tramas do tipo plasma e skelsepic, e reorientações notáveis de argila, seja ao redor de grãos esqueletais, que normalmente possuem um maior grau de arredondamento, seja em alinhamentos ao longo de direções preferenciais, normalmente paralelas a micro cisalhamentos. Essas estruturas, por sua vez, apresentam-se quase sempre retilíneas ao longo de duas direções preferenciais que variam entre 23-55° e 122-158° em relação ao plano de acamamento da rocha em sentido horário, formando uma malha quase regular de micro losangos, de ângulos internos de 79° (± 5°) e 100° (± 5°) entre si. Essas características sugerem que o comportamento dos sedimentos desses pellets é compatível àqueles de materiais expostos a tensões cisalhantes, indicando contextos deformacionais glacio-tectônicos, especificamente relacionados a ambientes subglaciais. Essa hipótese é reforçada pela presença de tramas skelsepic, grãos esqueletais arredondados e estruturas turbadas, que além de apontar regiões de concentração de estresse prolongado, implicam na presença e movimentação de água proveniente do derretimento subglacial. Sendo assim, os pellets da Formação Campo do Tenente apontam para gênese a partir de sedimentos subglaciais pouco consolidados sob geleiras de base úmida. Esses sedimentos teriam sido posteriormente incorporados a icebergs oriundos da fragmentação da frente da geleira e liberados em processos de degelo.

Palavras Chave

Detritos Transportados por Gelo Flutuante (IRD); Pellets; Micromorfologia; Microestruturas; Deformação subglacial