51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

DEPÓSITOS FLUVIAIS CRETÁCEOS DA FORMAÇÃO BOTUCATU: EM BUSCA DE UM MODELO DE FÁCIES E PROVENIÊNCIA PARA SISTEMAS MARGINAIS DE ERGS

Texto do resumo

O Período Cretáceo inferior foi caracterizado pelo rifteamento final do supercontinente Gondwana acompanhado pela reordenação das drenagens continentais e estabelecimento de grandes áreas desérticas nas porções interiores da recém formada Placa Sul-americana. De fato, indicadores paleoclimáticos sugerem que o Cretáceo foi um dos períodos mais secos do Fanerozoico, propiciando condições para o desenvolvimento de amplas regiões desérticas. Neste contexto situa-se o paleodeserto Botucatu, constituído por extensos campos de dunas de grande porte que se estendiam por 1,5 milhões de km² no centro-sul da Placa Sul-americana. Apesar da predominancia de facies de arenitos estratificados depositados em dunas barcanóides e áreas de interdunas, são muito raras as fácies conglomeráticas interpretados como depositadas em sistemas fluviais. Na região do Triângulo Mineiro, especificamente entre os municípios de Uberlândia e Araguari, afloram depósitos de conglomerados arenosos estratificados (conglomerado arenoso com estratificação cruzada tabular), arenitos conglomeráticos (arenito conglomerático com estratificação cruzada acanalada e com laminação plano-paralela) e arenitos mal selecionados maciços depositados em contato erosivo discordante sobre augen gnaisses neoproterozoicos da Faixa de Dobramentos Brasília. Estes depósitos são por sua vez recobertos por rochas vulcânicas básicas efusivas da Formação Serra Geral, inclusive apresentando pillow-lavas e disjunções colunares. Com base em uma abordagem multi-indicadores envolvendo análise de fácies, dados de paleocorrentes e petrografia microscópica, definiu-se que estes depósitos da Fm. Botucatu foram depositados por fluxos fluviais desenvolvidos sobre superfície previamente erosiva do embasamento da borda nordeste da Bacia do Paraná. Este sistema fluvial possivelmente do tipo entrelaçado, foi preenchendo pequenos canais e áreas deprimidas do relevo, depositando fácies conglomeráticas de canais residuais e barras fluviais arenosas durante fluxos de alta energia. Os dados de paleocorrente indicam transporte para SE e E, sugerindo áreas-fonte a NW e W da área. Esse contexto é confirmado pelos dados obtidos na contagem de litoclastos, predominantemente constituídos por xistos (81%) e quartzos de veio (19%) interpretados como oriundos da Faixa Brasília à NW e W. Este estudo apresenta a primeira descrição detalhada dos depósitos rudáceos da Formação Botucatu na parte norte da Bacia do Paraná, de modo que os resultados indicam forte contribuição das rochas da Faixa de Dobramentos Brasília, colaborando com a assinatura de proveniência envolvendo as faixas de dobramentos neoproterozóicas geralmente associadas às áreas-fonte dos depósitos eólicos da Formação Botucatu. Portanto, a compreensão dos sistemas deposicionais fluviais localizados nas áreas marginais de grandes desertos do Cretáceo brasileiro aqui descritos, poderão ser utilizados como base na elaboração de modelos de fácies e entendimento dos padrões de dispersão de sedimentos de depósitos fluviais em margens de ergs.

Palavras Chave

: Bacia do Paraná; Formação Botucatu; Análise de fácies; Paleocorrentes; Proveniencia sedimentar.

Área

TEMA 21 - Estratigrafia, Sedimentologia e Paleontologia

Autores/Proponentes

Leandro Gustavo da Silva Albino, Rodrigo Irineu Cerri, Luciano Alessandretti, Lucas Veríssimo Warren, Gabriel Bertolini