51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

Classificação Espectral e Mineralógica na Região de Kasei Valles, Marte

Texto do resumo

Kasei Valles, situado no quadrângulo de Lunae Palus, entre as latitudes 20-30°N e longitudes 280-310°E, destaca-se como uma das feições mais proeminentes em Marte. Originado em Echus Chasma, próximo ao planalto vulcânico Tharsis Mons, estende-se até Chryse Planitia, sendo reconhecido como o maior sistema de canais de drenagem marciano e um dos maiores do Sistema Solar (Carr, 1996). Sua formação data do período Hesperiano Tardio até o Amazoniano, entre 3,7 e 3,2 bilhões de anos atrás, quando Marte possuía condições favoráveis para água líquida em sua superfície (Baker, 1978). Este estudo visa identificar fases minerais que evidenciem a presença de água e processos de alteração química em Kasei Valles, utilizando dados do sensor hiperespectral CRISM (Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars) (Murchie et al., 2007) e análise fotointerpretativa com base em imagens do sensor HiRISE (High Resolution Science Experiment) (McEwen et al., 2007) para estabelecer correlações com feições geológicas conhecidas. O CRISM, com 544 bandas desde o visível (362nm) ao infravermelho médio (3920nm), teve seus dados pré-processados com o software ENVI e o plugin CAT (CRISM Analysis Tools). Cinquenta e cinco imagens foram estudadas considerando sua representatividade morfológica e a sobreposição com imagens do HiRISE. No entanto, apenas duas foram selecionadas devido à baixa cobertura de poeira e presença de depósitos minerais. A técnica de mapeamento SAM (Spectral Angle Mapper) foi aplicada para classificação, utilizando a biblioteca espectral MICA desenvolvida para o CRISM (Viviano et al., 2014). A primeira cena selecionada mostra um terraço fluvial com perfil convexo suave e talvegues esculpidos pela água, possivelmente representando um leito abandonado após a diminuição do nível de base. Na porção sul, um depósito claro de cerca de 1km de comprimento ocorre próximo a pequenas crateras e dunas formadas pela correnteza. Análises espectrais revelaram que o depósito mineral claro apresenta absorções em 1.92, 2.0 e 2.21 µm, características da Alofana, uma sílica amorfa hidratada. A presença de outros filossilicatos não pôde ser verificada devido à forte absorção em 1.06 µm, provavelmente vinda de material basáltico. Na segunda cena, localizada na região norte do canal, a mineralogia associada às unidades de idade Noaquiana foi observada. O destaque foi o pico central de uma cratera de impacto, composto principalmente de Olivinas e Clinopiroxênios de Alto Cálcio. A aplicação do algoritmo SAM permitiu identificar três fases de alteração distintas: Ilita, Clorita e Saponita. A análise das cenas observadas em Kasei Valles fornece evidências convincentes da existência passada de água líquida em quantidades significativas. Além das evidências mineralógicas, as características geomorfológicas e de relevo também desempenharam um papel importante nesta conclusão.

Referências
Baker, Victor R. “The Spokane Flood Controversy and the Martian Outflow Channels.” Science, 1978a.
Carr, Michael H. “Water on Mars.” Oxford University Press, 1996.
Williams, David R. “Viking Mission to Mars.” 2006.
Murchie, S., et al. (2007), Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars (CRISM) on Mars Reconnaissance Orbiter (MRO)
McEwen, A. S., et al. (2007), Mars Reconnaissance Orbiter's High Resolution Imaging Science Experiment (HiRISE)
Viviano, C. E., et al. (2014), Revised CRISM spectral parameters and summary products [...].

Palavras Chave

CRISM; Sensoriamento Remoto; Geologia Planetária; Hiperespectral; Marte

Área

TEMA 16 - Geoquantificação e Geotecnologias

Autores/Proponentes

Reynaldo Souza de Carvalho, Diego Fernando Ducart, Alvaro Penteado Crósta