51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

ALTERAÇÕES MINERAIS GERADAS PELO INCÊNDIO DO MUSEU NACIONAL

Texto do resumo

Antes do incêndio ocorrido em setembro de 2018, a Coleção de Mineralogia do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional contava com cerca de 7500 peças incorporadas ao longo de 200 anos. Cada peça era marcada com um lastro de tinta que continha seu número de tombo e que atrelava a peça às suas informações históricas. Entretanto, durante o incêndio, os lastros foram apagados e as amostras alteradas pela temperatura e intempéries diversas, dificultando sua associação com as informações originais. Este estudo visa caracterizar as fases de alteração geradas durante o incêndio e associá-las a uma mineralogia original, auxiliando assim na recuperação dos números de tombo. Para tal, foram utilizados dados de análises termogravimétricas disponíveis na literatura, a descrição das propriedades físicas das amostras e, quando pertinente, foram também realizadas análises de microscopia eletrônica de varredura com espectroscopia de energia dispersiva de raios X, difratometria de raios X e espectroscopia RAMAN. As alterações observadas podem ser classificadas em três tipos: (i) mudança nas propriedades físicas (sem alteração na fase mineral), (ii) geração de novas fases por agentes externos e (iii) geração de novas fases pela mudança das fases originais. As mudanças nas propriedades físicas (alteração tipo i) estão relacionadas à mudança de cor (e.g. ametista para citrino), o hábito em escala microscópica (recristalização da cassiterita apresentando hábito acicular) e à perda ou ganho de magnetismo. Cristais de gipsita foram observados na superfície de diversas amostras que possuíam mineralogia original distinta. Aqui interpretamos que o cálcio presente no papel das caixas de armazenamento das amostras, unido à umidade e ao enxofre livre no ambiente, propiciou a cristalização de gipsita, definindo uma nova fase gerada por agentes externos (alteração tipo ii). Contudo, a maior parte dos casos é referente às mudanças nas fases originais, identificados macroscopicamente pela mudança na cor, brilho, dureza e traço (alteração tipo iii). São reportadas reações de oxidação da molibdenita para molibdita, que ocorre em 540 °C, assim como da galena que é alterada somente na sua superfície para anglesita em 600-820 °C. Decomposição térmica ocorre nas amostras de azurita em 410-430 °C e malaquita a 380 °C, gerando CuO e tenorita, com liberação de água e CO2. Fases minerais com ferro, como granada e siderita, apresentaram forte magnetismo após o incêndio e análises de DRX indicaram a presença de hematita e magnesioferrita, bem como a ausência das fases originalmente descritas. Ocorreram também reações de desidratação, onde amostras de gipsita foram alteradas para anidrita em 150-250 °C e alteração no sistema cristalino, onde amostras de aragonita passaram para o sistema romboédrico (calcita), reação que ocorre em 450 °C. As novas fases são complexas e sua identificação inicial só pode ser feita por técnicas avançadas. No entanto, uma vez detectadas, pode ser feito o caminho inverso. Assim, torna-se possível, por exemplo, utilizar a presença de molibdita (mineral de cor verde) para identificar amostras alteradas de molibdenita ou de tenorita (mineral de cor preta) para identificar amostras originalmente de malaquita e/ou azurita. Até o momento, 1.100 peças do acervo foram inventariadas e fotografadas, 700 tiveram seu número de tombo recuperado e 87 foram analisadas.

Palavras Chave

mineralogia; acervo; coleção; Museu Nacional

Área

TEMA 20 - Mineralogia e Petrologia Metamórfica

Autores/Proponentes

Gisele Rhis, Fabiano Richard Leite Faulstich, Marina Alfradique de Melo Arruda, Matheus Rocha Violante, Olivia Maria Souza Santos, Beatriz Medeiros, Reiner Neumann, Ciro Alexandre Ávila