51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

A Zona de Cisalhamento Picuí-João Câmara: uma zona de cisalhamento transcorrente ou transpressiva?

Texto do resumo

A Zona de Cisalhamento Picuí-João Câmara (ZCPJC) representa uma das principais estruturas do Domínio Rio Grande do Norte da Província Borborema. Estendendo-se por dezenas de quilômetros, segundo um trend N-NE, essa mega zona de cisalhamento marca o limite entre dois sub-domínios crustais, os quais evoluíram com características litológicas, geocronológicas e estruturais distintas. O Sub-domínio São José do Campestre, localizada na porção leste da ZCPJC, é composto por rochas Paleoproterozoicas, em grande parte pertencentes ao complexo Serrinha-Pedro Velho, o qual registra os eventos de deformação mais antigos da região (D1 e D2) relacionados a uma tectônica tangencial. Por outro lado, o Sub-domínio Seridó, composto por uma sequência de rochas metassedimentares Neoproterozoicas, em grande parte constituídas por mica xistos do Grupo Seridó, está localizado no limite oeste da ZCPJC, e guarda evidências de uma tectônica eminentemente transcorrente (D3), de idade Brasiliana, cujas zonas de cisalhamento constituem o principal registro. Um trabalho em desenvolvimento ao longo de um segmento de aproximadamente 60 km na ZCPJC, a sul da cidade de Picuí (PB), tem como objetivo caracterizar a natureza cinemática e deformacional dessa zona de cisalhamento. No contexto regional, a instalação da ZCPJC é considerada como resultante de uma deformação eminentemente transcorrente dextral. Assumir uma tectônica transcorrente (no conceito de uma cinemática dominada por cisalhamento simples) para a ZCPJC implicará na adoção de um modelo deformacional que restringe a tectônica tangência de baixo ângulo (compressiva) restrita apenas aos eventos deformacionais mais antigos (D1/D2). O levantamento estrutural parcial dos dados em campo identificou uma foliação S1/S2 relacionada a dobras normais sub-horizontais fechadas a isoclinais, cuja foliação de plano axial mostra trend N-NE e forte mergulho para E e W. Uma foliação S3, geralmente de natureza milonítica e plano axial dessas dobras, mostra trend N-NE e NE. Os mergulhos variam de forte (70-88° para W e E), cujos indicadores cinemáticos indicam sentido de movimento sinistral, a fraco (60-20° para W e E). Sheets de pegmatitos milonitizados foram observados dispostos em paralelismo com a foliação. Por vezes esses corpos ocorrem boudinados em duas direções, cuja geometria tipo “tablete de chocolate” sugere strain tridimensional no campo do achatamento. Uma lineação de estiramento mineral (anfibólios e agregados quartzo-feldspatos, principalmente) mostra rakes que variam de 5 a 25°. A observação de dobras com flanco invertido, fortemente delgado e cisalhado, tipo fold-nappe, marcam zonas de cavalgamento de blocos com o desenvolvimento de superfícies com intensa milonitização. Em um perfil W-E através da ZCPJC essas faixas de intensa milonitização e baixo ângulo mostram topo com direção de transporte para W e E nos limites oeste e leste da ZCPJC, respectivamente. Portanto, sugerindo a ocorrência de flor positiva e a implantação dessa zona de cisalhamento no âmbito de uma tectônica transpressiva. Os dados parciais sugerem que um modelo deformacional envolvendo uma combinação de encurtamento, aproximadamente em alto ângulo a direção da zona de cisalhamento, e cisalhamento simples é o cenário mais provável para a instalação da ZCPJC.

Palavras Chave

Província Borborema; Zona de Cisalhamento Picuí-João Câmara; transpressão; cinemática

Área

TEMA 17 - Tectônica e Evolução Geodinâmica

Autores/Proponentes

Harrizon Lima Almeida, Carlos Mario Echeverri Misas, Guilherme Santos Teles, Marcelo Garcia Galé