51º Congresso Brasileiro de Geologia

Dados da Submissão


Título

DO MAR MESOZOICO PORTUGUÊS AOS CALÇAMENTOS HISTÓRICOS DE BELÉM DO PARÁ

Texto do resumo

O intervalo juro-cretáceo em Portugal é registrado por abundantes rochas calcárias ricamente fossilíferas, as quais foram utilizadas em construções emblemáticas de várias colônias lusitanas, inclusive no Brasil. A maioria destes calcários foram formados entre Jurássico Médio e o Cretáceo, quando a região da orla ocidental de Portugal estava submersa por um mar de águas rasas. Este mar raso era habitado principalmente por rudistas, gastrópodes e foraminíferos. O principal calcário utilizado era o Lioz de idade cretácea, que provém da região de Pêro Pinheiro, trazido ao território nacional, junto com outros tipos de rochas, como lastros de navios na época colonial. O Lioz de Portugal apesar de ter diversas formas, é caracterizado como um calcário microcristalino de cor marfim a rosa claro, rico em fósseis de moluscos rudistas dos gêneros caprinídeos e radiolitídeos. Em Belém, o Lioz é observado principalmente nas construções históricas e nos calçamentos antigos da cidade. Contudo, por meio de visitas técnicas realizadas em determinados pontos da cidade, foi possível observar que o Lioz é muito raro nos calçamentos, que por sua vez é composto por calcários mais variados. Dessa forma, faz-se necessária uma melhor caracterização dos calcários que compõem o calçamento de Belém para identificar a proveniência correta destes materiais. Foram descritos 6 tipos de rochas distintas do Lioz clássico que foram diferenciadas por sua cor, estruturas e conteúdo fossilífero. 1) Calcário preto, maciço, com fraturas preenchidas por calcita, composto por bivalves desarticulados e fragmentados, espinhos de equinodermas e macroforaminiferos; 2) Calcário de cor creme, estratificado, composto por fósseis muito fragmentados de ostras, esponjas e bivalves, além de foraminíferos e espinhos; 3) Calcário vermelho a cinza claro, maciço e com Thalassinoides, localmente observa-se gastrópodes e estilólitos; 4) Calcário rosa a creme, maciço e com abundantes planos de estilólitos; 5) Calcário cinza a amarelo claro, maciço e com fósseis de ostras articulados, desarticulados e fragmentados; 6) Calcário vermelho a rosa escuro, maciço, com estilólitos, abundantes fósseis de rudistas radiolitídeos, raros fragmentos de conchas e coral, além de bioclastos indiferenciados. Algumas destas rochas tem similaridades com materiais pétreos provenientes de Portugal e comercializados no Brasil Imperial. Os calcários pretos assemelham-se ao calcário Azul Valverde da cidade de Alcobaça e os calcários estratificados têm semelhanças com os tipos Moca Creme e Relvinha de Santarém, todos pertencentes ao Maciço Calcário Estremenho de idade Jurássico Inferior a Médio. Enquanto o calcário vermelho com abundantes fósseis de rudistas, chamado de Encarnadão, e o calcário de Lioz são do Cretáceo, o quais são provenientes da região de Pêro Pinheiro. Não foi possível fazer associações entre os calcários portugueses e os demais tipos encontrados nos calçamentos de Belém, o que sugere que estes materiais não chegavam ao Brasil para serem utilizados comercialmente. Este estudo evidencia as lacunas a respeito da origem dos materiais pétreos usados na época colonial e imperial nas principais cidades do Brasil. Logo, destaca-se a importância dos calçamentos de Belém como agentes patrimoniais, os quais representam um testemunho material da influência portuguesa na arquitetura da cidade, além de ser o registro fossilífero do mar Mesozoico de Portugal e contribuir para a valorização do geoturismo urbano.

Palavras Chave

Construções históricas; Fósseis; Geoturismo; Patrimônio.

Área

TEMA 04 - Geodiversidade, Geoturismo e Geoconservação

Autores/Proponentes

Giovana Freitas Brabo, Joelson Lima Soares, Laura Estefania Garzón Rojas, Iarley Conceição Aires, José Fernando Rodrigues Ferreira Filho